sábado, novembro 15

Fiz o sinal pro ônibus e ele, como não podia deixar de ser, parou. Antes que o motorista arrancasse, subi os dois degraus rapidamente e livrei-me de um provável traumatismo craniano. Paguei a passagem, recebi o troco e sentei-me, como de hábito, perto do corredor na fileira da direita. Felizmente esses lugares específicos estavam vagos, porque uma coisa que eu detesto é entrar no ônibus e encontrá-los ocupados. Sinto-me completamente deslocado do lado esquerdo. Que foi? Qual é o problema em ser metódico? Que eu saiba não é crime... ainda. Aviso importante: se você, abnegado visitante, leu este texto até aqui por acreditar que ele tem algum propósito, vá tirando o cavalinho da chuva. Naquela ensolarada tarde de sexta, fiz um trajeto relativamente curto. Mesmo assim, a tranqüilidade da viagem foi abalada pela entrada em cena de três ambulantes. Um de cada vez, é claro. O primeiro vendia paçocas e, pobre infeliz, fracassou miseravelmente na tentativa de convencer os passageiros a retirar o escorpião do bolso. Na seqüência veio o vendedor de canetas. Um real cada. Pessoalmente, achei as canetas pavorosas, muito berrantes, mas houve uma senhora que discordou do meu ponto de vista. Certamente não resistiu à lábia do vendedor. Este, diante do fato consumado, retirou uma caneta da caixa e passou a testá-la rabiscando um pedaço de papel. Admito, a longa duração do teste chegou a me angustiar; a caneta, sofisticadíssima, tinha três ou quatro cores (fico devendo a informação precisa). Confirmada a qualidade do produto, só então o cioso vendedor permitiu-se recolher a amarrotada nota de 1 real. É meu triste dever informar que coube ao derradeiro ambulante, o homem das bananadas, partilhar do mesmo destino do vendedor de paçocas. O fracasso comercial de ambos é uma questão que ainda me intriga. Teria o forte calor daquela tarde desestimulado a demanda por esse tipo de iguaria? Acho que nunca saberemos a resposta. De qualquer forma, toda essa experiência serviu para me dar uma brilhante idéia: estou pensando em propôr a criação de um novo índice para medir a atividade econômica do nosso país. Ele seria obtido através de uma equação que envolveria a distância percorrida pelo ônibus, o número de ambulantes presentes e o total de produtos vendidos (com pesos diferenciados para os comestíveis, cujo desempenho é influenciado por fatores sazonais). Morda-se de inveja, FGV.

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